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Em resumo

Quando Graciliano Ramos nasceu?

27 de outubro de 1892 em Quebrangulo – AL

Quando Graciliano Ramos morreu?

20 de março de 1953 no Rio de Janeiro – RJ

Quais são suas principais obras?

São Bernardo, romance, 1934 Angústia, romance, 1936; Vidas Secas, romance, 1938; Memórias do Cárcere, memórias, 1953.


Vida

A miséria é uma palavra com muitos significados e Graciliano Ramos conseguiu retratar suas mais diversas formas durante sua vida. Nasceu Graciliano Ramos de Oliveira em Quebrangulo, Alagoas em 27 de outubro de 1892 foi politicamente ativo toda sua vida, também foi funcionário público e escreveu para jornais.

Sua vida foi agitada. Eleito prefeito de uma cidade no interior alagoano, assumiu a função por apenas 2 anos. Depois dirigiu a Imprensa Oficial em Maceió. Chegou a ficar preso durante 11 meses no Rio de Janeiro. E trabalhou como Inspetor federal de ensino antes de viajar pelo mundo a sob o orientação do Partido Comunista do Brasil, faleceu no Rio de Janeiro em 20 de março de 1953.

Obra

“Queria endurecer o coração, eliminar o passado, fazer com ele o que faço quando emendo um período — riscar, engrossar os riscos e transformá-los em borrões, suprimir todas as letras, não deixar vestígio de idéias obliteradas.” , Memórias do Cárcere(1953)

O autor é enquadrado no modernismo e no regionalismo sua narrativa árida e cortante é um esboço aterrador da natureza humana. Seu livro mais conhecido é Vidas Secas (1938), nele o autor descreve a vida de retirantes em meio a caatinga, vegetação típica do nordeste brasileiro. A falta desumaniza as personagens. A fome, a seca, a ausência de diálogos anunciam o limite da civilização; o que é apenas sobreviver. Como as relações humanas se transformam quando atingimos certo ponto.

“Agora Fabiano era vaqueiro, e ninguém o tiraria dali. Aparecera como um bicho, entocara-se como um bicho, mas criara raízes, estava plantado. Olhou as quipás, os mandacarus e os xiquexiques. Era mais forte que tudo isso, era como as catingueiras e as baraúnas. Ele, sinhá Vitória, os dois filhos e a cachorra Baleia estavam agarrados à terra.” Vidas Secas, 1938

O livro virou um filme dirigido por Nelson Pereira dos Santos em 1963. É considerado um clássico do cinema nacional.

No entanto são os romances psicológicos que realmente elevam a obra de Graciliano. Angústia (1936) e São Bernardo(1934) tem a qualidade de revelar a natureza humana em uma autópsia precisa e aflitiva. O ambiente é mantido e também a aridez da escrita elaborada de maneira cirúrgica, mas o terreno torna-se ainda mais aterrador quando cria-se uma dialética entre o ambiente da miséria e da falta com a mesquinhez humana.

Em Angústia o autor descreve um crime, de maneira que foi bastante comparada com Dostoievski. Nesse caso não é um crime premeditado, o autor descreve o momento em que a ideia de acabar com uma vida surge; como essa ideia fere o “herói”, a febre, a dor e a humilhação que levam o protagonista a chegar ao ponto de matar. Um clima onírico transpassa o texto, na construção de uma narrativa que consegue criar no leitor a sensação que dá título ao livro.

“A réstia descia a parede, viajava em cima da cama, saltava no tijolo — e era por aí que se via que o tempo passava. Mas no tempo não havia horas. O relógio da sala de jantar tinha parado. Certamente fazia semanas que eu me estirava no colchão duro, longe de tudo. Nos rumores que vinham de fora as pancadas dos relógios da vizinhança morriam durante o dia. E o dia estava dividido em quatro partes desiguais: uma parede, uma cama estreita, alguns metros de tijolo, outra parede. Depois, a escuridão cheia de pancadas, que às vezes não se podiam contar porque batiam vários relógios simultaneamente, gritos de crianças, a voz arreliada de d. Rosália, o barulho dos ratos no armário dos livros, ranger de armadores, silêncios compridos. Eu escorregava nesses silêncios, boiava nesses silêncios como numa água pesada.” Angústia (1963)

Em São Bernardo o que corrói a alma do protagonista é a culpa. A narrativa é construída de tal maneira que é criada uma cumplicidade com o leitor. A precisão, lapsos na descrição e até mesmo a temática nos faz lembrar Machado de Assis. Os açoites psicológicos contrastando com o ambiente hostil e árido criam um cenário único e comovente sobre as mazelas da existência.

Emoções indefinidas me agitam – inquietação terrível, desejo doido de voltar, tagarelar novamente, como fazíamos todos os dias, a esta hora. Saudade? Não, não é isto: é desespero, raiva, um peso enorme no coração. São Bernardo, 1934

A precisão e a busca pelas palavras e entregas perfeitas compõem grande parte das suas obras. Muitas vezes o autor, coloca entre os dramas de seus personagens não conseguir encontrar as palavras para expressar um certo sentimento. Em Memórias do Cárcere, livro onde descreve o período de 11 meses em que ficou preso sem julgamento e sem justificativa, ele questiona a dificuldade de encontrar a paz de espírito para escrever, mas isso não o impediu que finalizasse e contrabandeasse para fora do presídio o livro Angústia.

A literatura de Graciliano Ramos é rústica e atroz. O autor conseguiu, como poucos, descrever a relação entre sociedade e ambiente e como ela influencia o indivíduo. Seu preciosismo intempestivo é revelado em suas crônicas e memórias, onde as as agruras da escrita são compartilhadas sem tanto constrangimento.

Uma das reflexões que podem ser tiradas da obra do autor, e esse embate da falta de palavras na convivência humana é a importância do conhecimento das letras para o nosso entendimento como conjunto.

Caso se interesse, essas são as obras do autor:

Romance

  • Caetés(1933)
  • São Bernardo(1934)
  • Angústia(1936)
  • Vidas Secas(1938)

Infanto-juvenis

  • A Terra dos Meninos Pelados(1939)
  • Histórias de Alexandre(1944)
  • Alexandre e Outros Heróis(1962) (obra póstuma)
  • O Estribo de Prata(1984) (obra póstuma)

Contos

  • Dois dedos(1945)
  • Histórias Incompletas(1946)
  • Insônia(1947)
  • Viagem(1954) (obra póstuma)

Crônicas, memórias e outros textos

  • Linhas Tortas (1962) (obra póstuma)
  • Viventes das Alagoas(1962) (obra póstuma)
  • Cartas(1980) (obra póstuma)
  • Garranchos(2012) (obra póstuma)
  • Infância(1945)
  • Memórias do Cárcere(1953)
  • Cartas de amor à Heloísa (1992) (obra póstuma)
Flavia

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Flavia

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