Guimarães Rosa

Em resumo

Quando Guimarães Rosa nasceu?

27 de junho de 1908 em Cordisburgo – MG

Quando Guimarães Rosa morreu?

19 de novembro de 1967 no Rio de Janeiro – RJ

Quais são suas principais obras?

Sagarana, contos, 1946; Grande Sertão: Veredas, romance 1956.

Vida

João Guimarães Rosa foi um escritor brasileiro e é tido como o maior escritor do século XX. Nasceu em Cordisburgo, Minas Gerais em de 27 de junho de 1908 e foi, além de escritor, médico e diplomata. Em 1930 formou-se em Medicina na cidade de Belo Horizonte. E durante alguns anos trabalhou como médico em cidades do interior mineiro.

Em 1934 ingressou na diplomacia e em 1938 já era cônsul-adjunto em Hamburgo, na Alemanha. Em 1942 quando o Brasil cortou relações com a Alemanha, durante os eventos da Segunda Guerra Mundial, Guimarães ficou preso em Baden-Baden, foi libertado no mesmo ano, quando foi alocado em Bogotá, no cargo de secretário da Embaixada Brasileira. Residiu em Paris de 1946 a 1951, onde firmou-se diplomata e pode escrever com maior regularidade.

Por sua obra foi eleito Imortal da literatura brasileira em 1963. Mas somente tomou posse apenas 1967 três dias antes de sua morte, Rosa faleceu aos 59 anos, em 19 de novembro de 1967 no Rio de Janeiro.

 

 Obra

 As obras de um escritor podem marcar a sociedade e a sua língua por vários motivos: a temática, o estilo, a perspectiva. No caso de Guimarães Rosa temos a confluência desses três fatores; conflitos do ambiente com o homem, a oralidade e a humanização proporcianaram uma obra ímpar, capaz de descrever não apenas um momento da história com seus hábitos e o modo de vida de uma parcela da população, mas volta o olhar para a condição humana em si, os conflitos da falta e do vazio dentro da visão que temos de nós mesmos.

O regionalismo foi uma corrente do modernismo, e muitos grandes escritores ficaram marcados por tentar traduzir as características da terra em sua escrita. Rosa pode enquadrar-se em parte desse movimento, pela sua temática, mas segundo crítico Antonio Candido, há em sua obra uma ruptura com o passado que o põe acima nessa categorização. O diferencial do escritor está na capacidade que ele teve de tornar humano os conflitos que narra em sua obra, transformar questões de uma região isolada em algo palpável para todo aquele que pode sentir.

Em seu primeiro livro em prosa, a coletânea de contos Sagarana, o autor já nos revela seu próprio idioma. Prosa e poesia se unem para desvendar a fala do sertanejo, não é o uso de neologismos (recorrente no modernismo) que observamos, é uma documentação da oralidade e musicalidade da fala do homem do sertão que fica espelhada em seus contos.

A maneira como desenvolveu seu estilo único, conseguindo condensar a fala popular e técnicas da alta literatura, permitiu a incorporação de expressões da fala cotidiana dentro da língua brasileira, além de permitir uma abordagem incomum sobre temas que às vezes não são tocados por medo ou simples esquecimento, como o caso do conto a A terceira margem do rio do livro Primeira Estórias de 1962.

Sem alegria nem cuidado, nosso pai encalcou o chapéu e decidiu um adeus para a gente. Nem falou outras palavras, não pegou matula e trouxa, não fez a alguma recomendação. Nossa mãe, a gente achou que ela ia esbravejar, mas persistiu somente alva de pálida, mascou o beiço e bramou: — “Cê vai, ocê fique, você nunca volte!” Nosso pai suspendeu a resposta. Espiou manso para mim, me acenando de vir também, por uns passos. Temi a ira de nossa mãe, mas obedeci, de vez de jeito. O rumo daquilo me animava, chega que um propósito perguntei: — “Pai, o senhor me leva junto, nessa sua canoa?” Ele só retornou o olhar em mim, e me botou a bênção, com gesto me mandando para trás. Fiz que vim, mas ainda virei, na grota do mato, para saber. Nosso pai entrou na canoa e desamarrou, pelo remar. E a canoa saiu se indo — a sombra dela por igual, feito um jacaré, comprida longa.

Música de Milton Nascimento e Caetano Veloso

No entanto sua obra de maior impacto, e provavelmente uma das maiores obras da literatura, é Grande Sertão: Veredas um Bildungsroman sertanejo, o livro narra a trajetória de Riobaldo no sertão mineiro, toda a vida do protagonista nos é narrada por um interlocutor e realidade e fábula se misturam em algo que parece uma conversa em um bar qualquer.

Os caminhos que o autor descreve, inclusive, são reais e ele teve a oportunidade de desbrava-los em sua juventude na companhia de tropeiros onde  escreveu sobre a sela do seu cavalo as anotações que culminaram no livro.

Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador; e onde criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho de autoridade. O Urucúia vem dos montões oestes. Mas, hoje, que na beira dele, tudo dá — fazendões de fazendas, almargem de vargens de bom render, as vazantes; culturas que vão de mata em mata, madeiras de grossura, até ainda virgens dessas lá há. O gerais corre em volta. Esses gerais são sem tamanho. Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães… O sertão está em toda a parte. Grande Sertão: Veredas (1956)

Toda essa oralidade, essa reflexão da construção linguística, força o leitor a refletir sobre a comunicação como um todo. O sentido fica atrelado a forma e há uma liberdade interpretativa dentro dos texto de Guimarães Rosa.

A própria língua e a origem das palavras são postas em questão. Guimarães Rosa era conhecido pelo estudo de vários idiomas para compreender melhor a sua própria prosódia.

Sua capacidade de contar histórias que diziam muito mais do que a superfície mostrava colocou o autor entre um dos maiores escritores de todos os tempo. É uma leitura fundamental para compreender literatura. Além disso, é comovente compreender a formação das palavras e sentir a musicalidade do idioma roseano.

Caso se interesse segue a Lista das obras do autor:

  • 1946: Sagarana (Contos)
  • 1952: Com o Vaqueiro Mariano
  • 1956: Corpo de Baile: Noites do Sertão (novelas)
  • 1956: Grande Sertão: Veredas
  • 1962: Primeiras Estórias (Contos)
  • 1964: Campo Geral
  • 1967: Tutaméia – Terceiras Estórias (Contos)
  • 1936: Magma (Poemas) (póstumo)
  • 1969: Estas Estórias (Contos) (póstumo)
  • 1970: Ave, Palavra (póstumo)
  • 2011: Antes das Primeiras Estórias (póstumo)


Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *