Jovem Guarda

Vejam só que festa de arromba
No outro dia eu fui parar
Presentes no local,
O rádio e a televisão
Cinema, mil jornais
Muita gente, confusão
Quase não consigo
Na entrada chegar
Pois a multidão
Estava de amargar
Hey, Hey,(hey, hey)
Que onda
Que festa de arromba

Jovem Guarda – Festa de arromba

Esse estilo Rock and Roll, esse jeito de cantar “iê-iê-iê” é muito conhecido dentre os brasileiros e tem um nome: Jovem Guarda.

Afinal, você conhece um pouco sobre esse ritmo e jeito de viver que ficou conhecido no Brasil e influencia muitos outros ritmos até os dias de hoje?

Muitas músicas com um estilo um pouco de Rock and Roll vem na sua mente quando pensa em Jovem Guarda. Não só as letras grudam nas nossas cabeças até os dias de hoje, mas também o jeito de falar e de se vestir que marcaram gerações inteiras no Brasil e estão presentes até os dias de hoje.

É claro, muitos conhecem o nosso grande Rei Roberto Carlos e pensam na Jovem Guarda por causa dele, mas se você quer saber como surgiu, quando surgiu e o que significa Jovem Guarda, certamente esse texto vai ser útil para você saber um pouquinho mais.

Jovem Guarda

O que é a Jovem Guarda?

A Jovem Guarda foi um movimento musical que surgiu na década de 60, sendo uma nova tendência de comportamento, música e moda que dominou os adolescentes e jovens daquela época.

Esse movimento surgiu em um programa na TV Record especificamente no ano de 1965 e durou até o ano de 1968.

Os principais artistas no início das apresentações na TV em São Paulo foram Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa. Até que o nome Jovem Guarda ficou associado ao rock, devido à sua estética e às músicas que estavam relacionadas com esse ritmo.

O Rock era um fenômeno internacional e devemos, em partes, à Jovem Guarda o fato de termos nos apropriado também desse ritmo aqui no Brasil.

Splish Splash
Fez o beijo que eu dei
Nela dentro do cinema
Todo mundo olhou me condenando
Só porque eu estava amando

Splish Splash – Roberto Carlos

O programa Jovem Guarda do dia 22 de agosto de 1965 foi marcante para estabelecer aquilo que ficará conhecido definitivamente como Jovem Guarda e, portanto, é a data quando surgiu a Jovem Guarda.

Mas isso porque o movimento foi crescendo aos poucos. Roberto Carlos já havia estourado nas rádios com uma versão de Splish Splash. Wanderléa também já fazia sucesso desde 1962.

O programa Jovem Guarda era apresentado por esse trio composto por Erasmo, Roberto Carlos e Wanderléa. Eles cantavam seus sucessos e também recebiam artistas convidados.

Cada vez mais o número de fãs aumentava, eles queriam ver e participar ao vivo do programa. A postura do trio era um pouco rebelde, o ritmo era um rock frenético e as letras eram inocentes e nada ofensivas, o que fazia muitos deixarem de pensar na situação política que se iniciava: a ditadura militar.

Além dos nomes já citados como Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa, os representantes da Jovem Guarda contavam também com Ronnie Von, Golden Boys, Os Vips, Leno e Lilian, Renato e seus Blues Caps, The Fevers, Jerry Adriani e vários outros.

Por que jovem guarda?

Talvez você já tenha até se perguntado, afinal, por que o nome jovem guarda?

Apesar de toda alienação política pela qual foram bastante criticados e são criticados até os dias de hoje, há fontes que dizem que o nome Jovem Guarda surgiu de uma frase de Lênin.

Segundo essa teoria, Lênin teria dito que o futuro estava nas mãos da jovem guarda e não da velha e já ultrapassada.

Como a jovem guarda influenciou o modo de vestir?

A Jovem Guarda e sua rebeldia marcaram o jeito de viver de muitos adolescentes e lançou muita moda como casacos plumados e extravagantes, cores marcantes, o uso de minissaias e o cabelo grande e descontraído.

Além disso, a jovem guarda influenciou o modo de falar. Muitas palavras passaram a ser usadas na época só por causa dos artistas que insistiam em alguns termos e bordões como, por exemplo: Barra Limpa, Brasa, Bicho.

Alguns desses termos já ouvimos falar, como “carango” para falar de carro, “broto” para falar de menina bonita, “morou” para perguntar se a pessoa entendeu o que está falando, “tremendo”, para falar que algo é muito bom, “coroa” para falar de uma pessoa velha, “cuca” como se fosse cabeça, “pão” para falar de um homem bonito, “papo firme” para falar de uma pessoa boa de conversa, e “pra frente” no sentido de moderno e avançado.

Por que a Jovem Guarda era considerada alienante e fútil?

Diferentemente das demais vanguardas artísticas daquela importante década musical para o Brasil, a Jovem Guarda não tinha tanto apelo político.

As letras, a rebeldia e tudo o mais eram considerados leves e passavam despercebidos tanto para os pais quanto para qualquer tipo de autoridade, que não viam naqueles jovens e adolescentes nada de muito ameaçador.

O fato é que muitos consideravam o movimento como simplesmente iê-iê-iê fazendo menção às canções dos Beatles.

Como eles não incomodavam quase nada, a Jovem Guarda ganhou a simpatia do governo militar, e mantinha sempre os cuidados para não serem censurados e andarem na linha.

Lembrando que essa era a época da Bossa Nova junto com sua harmonia sofisticada com o jazz e a juventude da Zona Sul do Rio de Janeiro.

A Jovem Guarda, no entanto, representava alguns jovens ali que estavam muito mais ligados aos Beatles, Elvis Presley, Rolling Stones etc. que ao Jazz complicado da elite carioca.

A Jovem Guarda era e é até os dias de hoje considerada pelos intelectuais como algo alienante e fútil, tanto em suas canções e letras quanto em suas harmonias simples e pobres.

Aqueles que escutavam ou os seus representantes eram tidos como alienados por aqueles artistas que faziam combate à Ditadura Militar que estava se instaurando no país. Mas o fato é que essa relação entre Jovem Guarda e ditadura, no meio artístico, foi, digamos assim, pacífica.

Em vez de se preocuparem com o mundo, as guerras, as causas sociais e mais especificamente com a Guerra Fria, o Vietnam e a Ditadura Militar, os fãs da Jovem Guarda preferiam dançar e aproveitar aquele momento de rebeldia no estilo e no jeito de viver.

O que o pessoal da Jovem Guarda fazia era trazer versões dos Beatles e de vários outros artistas britânicos e estadunidenses e traduzi-los ao pé da letra ou conforme o ritmo e a melodia exigissem.

Por exemplo, dentre muitas canções, temos a versão de “Girl”, dos “Beatles”, que se transformou na canção “Meu Bem”, de Ronnie Von, veja e ouça como a letra e o ritmo são bem parecidos:

Se você quiser ouvir então a minha história
Sobre alguém a quem eu muito amei
Só direi que ela deixou sua imagem ilusória
No meu coração que eu fechei!

Ah, meu bem!
Meu bem!

Meu bem – Ronnie Von

 

Is there anybody going to listen to my story
All about the girl who came to stay?
She’s the kind of girl
You want so much, it makes you sorry
Still you don’t regret a single day
Ah, girl, girl

Girl – Beatles

 

 A influência das primeiras fases dos Beatles era marcante. Os elementos musicais faziam referência direta à moda estrangeira: o tema adolescente, a guitarra e o rock. Também “Stupid Cupid” de Neil Sedaka foi sucesso na voz de Celly Campelo conhecida como “Estúpido Cupido.” Veja:

Oh, oh, cupido
Vê se deixa em paz (oh, oh, cupido)
Meu coração que já não pode amar(oh, oh, cupido)
Eu amei há muito tempo atrás(oh, oh, cupido)
Já cansei de tanto soluçar(oh, oh, cupido)

Hei, hei, é o fim
Oh, oh, cupido,
Pra longe de mim (oh, oh, cupido)

Celly Campelo – Estúpido Cupido

 

Stupid Cupid

You’re a real mean guy
I’d like to clip your wings so you can’t fly
I’m in love and it’s a crying shame
and I know that you’re the one to blame

Hey Hey Set me Free
Stupid Cupid stop picking on me

 

“Stupid Cupid”, de Neil Sedaka

A turma da Jovem Guarda expressava em suas canções os valores americanos de ter um carro, uma namorada e conquistas pessoais. O que deixava os intelectuais e críticos da ditadura surpresos com a falta de atitude desses jovens.

Exemplos dessa temática são “Quero que tudo vá para o inferno”, de Roberto Carlos (1965) e, como mostramos no início do texto “Festa de arromba” de Erasmo Carlos e Roberto Carlos (1965).

De que vale o céu azul e o sol sempre a brilhar
Se você não vem e eu estou a lhe esperar
Só tenho você, no meu pensamento
E a sua ausência, é todo meu tormento
Quero que você, me aqueça neste inverno
E que tudo mais vá pro inferno

Quero que tudo vá para o inferno – Roberto Carlos

E existia também espaço para as músicas mais parecidas com baladas, como em “Devolva-me”, de Lilian Knapp e Renato Barros e a canção “Eu te amo mesmo assim”, de Martinha.

O fato é que, para muitos, eles apenas vendiam discos, levavam uma vida de “playboy” e se preocupavam apenas com o american way of life.

As letras das músicas geralmente tinham por tema: carros, mulheres, festas e rebeldias muitas vezes consideradas sem uma causa a ser defendida.

Os astros da Música Popular Brasileira consideravam a Jovem Guarda alienante e fútil, mas junto com a Bossa Nova, ela marcava também um movimento de modernização das canções populares no Brasil. Afinal, uma hora ou outra o Brasil ia aderir à guitarra elétrica!

E foi aí que a turma da MPB junto com Elis Regina afirmou que a Jovem Guarda era sem letra, sem música, e faziam músicas apenas para grudar na cabeça, dançar e desvirtuar a juventude do que realmente importava politicamente.

Elis Regina

Por isso, no ano de 68, ela, Jair Rodrigues, Edu Lobo, Geraldo Vandré e até Gilberto Gil fizeram uma passeata de protesto contra a guitarra elétrica e suas influências.

Jovem Guarda e Bossa Nova

Essa turma do iê-iê-iê incomodou muito a linha dura dos que defendiam uma música realmente popular e brasileira. A Bossa Nova era uma dessas linhas duras que não admitiam uma nova forma tão despojada quanto era a Jovem Guarda.

Por outro lado, a turma da Zona Sul carioca era tida como muito elitista e de difícil acesso ao povão.

A Jovem Guarda julgava ser mais acessível aos jovens e adolescentes e realmente representar essa parte de ouvintes brasileiros, pois, segundo eles, tinham a mesma energia, era mais barulhento e alto, e tinha bem mais força que as músicas complicadas e calmas da Bossa Nova.

Então a confusão era assim: de um lado, a Bossa Nova dizia que a Jovem Guarda não devia trazer estrangeirismo para a música brasileira. De outro, a Jovem Guarda falava que a turma da Bossa Nova já fazia a mesma coisa, mas de um modo difícil e complicado com o Jazz.

O fato é que a Jovem Guarda era todo tempo atacada por ter rebeldia apenas no jeito de se vestir e dançar. E eles geralmente se defendiam afirmando que tinham uma postura mais neutra e racional de fazer seus protestos.

Enfim, toda essa discussão, que não acaba até os dias de hoje, você pode acompanhar no livro Jovem Guarda em Ritmo de Aventura, de Marcelo Fróes.

No final dessa discussão toda, adivinha quem chega para fundir e criar uma música genuinamente brasileira com Jazz, Rock, guitarra elétrica e tudo que tem direito? Isso mesmo, a Tropicália.

 

Tropicalismo e Jovem Guarda

É nessa disputa entre a pureza da música realmente popular e brasileira de um lado e a rebeldia de jovens com guitarra de outro que ocorre um momento ímpar na história da música brasileira.

Diante da linha dura e conservadora da MPB e a inovação da Jovem Guarda, Erasmo Carlos disse certa vez para Caetano Veloso que a Tropicália tinha vindo para dar um passo a mais nisso tudo, avançar um pouco com aquilo que todos criticavam e que a turma da tropicália podia fazer letras mais inteligentes já que eles julgavam ter mais atitude.

Essa relação entre Jovem guarda e tropicália é realmente muito interessante e outro grande livro que guarda esse assunto é o de Nelson Mota que tem como título Noites Tropicais.

Ali, podemos ver que havia grande interesse na TV Record nessa dualidade entre os dois gêneros musicais. A Tropicália foi justamente essa fusão inteligente entre a música popular e a jovem guarda.

Se observarmos bem, foi no mesmo Festival da TV Record que a MPB se consagrou, bem como ocorreu o início do tropicalismo de Caetano e Gil, mas não só isso, o próprio Roberto Carlos entrou para o rol dos grandes músicos brasileiros e dali seria conhecido como o Rei.

Por que a jovem guarda acabou?

Doce, doce amor,
Onde tens andado,
Diga por favor,
Doce, doce amor,
Doce, doce amor,
Que eu vou te encontrar,
Meu bem seja onde for.

Jerry Adriani  – Doce, Doce Amor

Foi já no ano de 1968 que Roberto Carlos deixou o programa de auditório e a TV Record teve que tirar o programa do ar, porque lhe faltava o maior de todos os ídolos. Depois disso, Roberto Carlos passou a ser considerado o Rei e o programa teve o seu fim no final da década de 60.

Bem como Roberto Carlos, outros artistas deixaram seu legado. Erasmo Carlos foi mais para a vertente do Rock and Roll. Sérgio Reis foi para a música sertaneja. Jerry Adriani, Ronnie Von e Reginaldo Rossi tiveram suas carreiras individuais consolidadas até os dias de hoje.

Diante desse legado e críticas deixadas à turma de Jovens, vale lembrar que, apesar das críticas dirigidas à Jovem Guarda, a própria Elis Regina em seu primeiro álbum Viva a Brotolândia (1961) também trazia essas influências rebeldes e joviais.

Jorge Ben também deixou de lado essa pureza e participou dos programas da Jovem Guarda e gravou discos acompanhados do The Fevers.

O grande Raul Seixas produziu o álbum em 1968 chamado Raulzito e os Panteras com uma capa tipicamente dos Beatles e escreveu “Doce, doce amor” de Jerry Adriani.

O fato é que a Jovem Guarda deixou sua contribuição e introduziu finalmente a guitarra elétrica e outros instrumentos considerados estranhos à música popular brasileira. Isso ocorreu em várias gravações e acabou influenciando a tropicália.

A influência estrangeira causava essa divisão entre aqueles mais puristas de um lado da MPB e aqueles Jovens que não queriam se incomodar muito com essas questões.

O fato é que quem ganhou com isso foi a história da música brasileira, pois nessa fusão de ritmos e músicas vindas do exterior, o brasileiro soube nutrir seus próprios ritmos que ficavam cada vez mais autênticos e belos.

Bom, além dos artistas, músicas e livros já citados nesse texto, quando o assunto é Jovem Guarda não faltam coisas novas para conhecer não é mesmo?

Aqui está uma lista do que você pode conferir sobre esse tema:

Confira os álbuns

Samba Jovem Guarda – Raça Negra

Jovem guarda – Roberto Carlos

Coleção Jovem Guarda – Sua Música

Confira o Livro:

 Jovem guarda Para Sempre

 


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