Seu delegado, digo a vossa
senhoria
Eu sou fio de uma famia
Que não gosta de fuá
Mas tresantontem
No forró de Mané Vito
Tive que fazer bonito
A razão vou lhe explicar
Luiz Gonzaga — Forró de Mané Vito (Seu delegado)
O forró é ao mesmo tempo uma festa, um ritmo musical e uma dança típica do nordeste do Brasil. Ele mistura vários outros gêneros musicais também típicos da região.
Geralmente esses outros ritmos como o baião, o xote e o xaxado são confundidos como sendo a mesma coisa, mas não é. Por isso, separamos algumas diferenças principais do forró e também um pouco da sua história e várias outras curiosidades.
Certamente você já ouviu falar sobre o forró ou gosta muito de dançar e ouvir. Mas será que você conhece a origem do forró ou sabe um pouco de sua história?
Quando pensamos em forró pensamos logo em Luiz Gonzaga, Fala Mansa, para alguns e até Wesley Safadão para outros, mas saber um pouco sobre esse ritmo encantador certamente vai fazer você conhecê-lo melhor e apreciar de outra maneira.
Quando o forró surgiu?
Temos o primeiro registro fonográfico do uso da palavra forró no ano de 1937 na gravação de “Forró na roça” composta por Xerém e Manoel Queiroz.
Especificamente em 02 de julho de 1937 essa música foi gravada ao som instrumental e com dizeres e declamações caipiras. Nessa gravação, você ouve a palavra forró pela primeira vez registrada na indústria fonográfica.
Mas o forró surgiu em meados do século XIX no nordeste do Brasil. Ele estava presente nos bailes populares chamados de forrobodó, forrobondança ou forrobodão.
Não sabemos a data exata que ele foi criado ou como surgiu. O que se sabe é que nessa época as festas aconteciam no chão batido de terra que precisava ser molhado para fazer uma espécie de revestimento. Dessa forma, as pessoas dançavam arrastando os pés evitando que a poeira se espalhasse. Daí o termo rastapé ou arrasta-pé que estão diretamente ligados ao forró.
Mas afinal, o que significa forró? Por que o nome forró?
Há muitas versões para o significado da palavra forró. Ela pode ter vindo do termo forrobodó que é de origem galega e portuguesa. Pode significar um baile com um só ritmo ao som do bumbo chamado forrobodó, ou faux-bourdon que é francês e que significa desentoação.
Mas sempre ouvimos falar que forró viria do inglês “for all”, que quer dizer “para todos”. Você já ouviu falar dessa história?
Alguns dizem que engenheiros americanos ou britânicos durante a segunda guerra mundial chegavam em algumas cidades do nordeste brasileiro e promoviam bailes que diziam ser para todos, daí o nome “for all” que passou a ser pronunciado forró no nordeste brasileiro.
No entanto, alguns estudiosos indicam o fim romantizado dessa história, porque antes mesmo da guerra temos registros da palavra em peças de teatro e em gravações musicais já registradas.
Há ainda outra versão que diz que forrobodó vem da áfrica e que ficou conhecido aqui como forró, pois o termo significaria algazarra ou festa para a ralé.
Bom, temos várias versões sobre a palavra, mas o fato é que o termo expressa uma das maiores manifestações culturais do Nordeste do Brasil. É um ritmo que juntou vários outros ritmos como o baião, coco, rojão, quadrilha, xaxado e xote.
O forró é um ritmo muito interessante, servindo para animar as festas e fazer as pessoas dançarem coladas como na lambada, o que já garante um bom exercício físico e geralmente está associado à muita festa, dança e cantoria. No entanto, existem vários tipos de forró que talvez você já tenha ouvido falar.
Forró pé de serra
A origem do forró como chegou aos nossos ouvidos, nos leva à década de 1940. Nessa época, surgiu no nordeste brasileiro o famoso forró pé de serra que expressava em suas canções a zona rural do sertão.
Os temas sempre faziam referência ao universo sertanejo. O forró era um ritmo tocado com zabumba, sanfona e triângulo basicamente e também era acompanhado de uma dança de passos simples e básicos, onde o essencial era dançar colado um no outro e fazer o giro da dama.
O que é forró pé de serra?
Quem não conhece Severina Xique Xique
Que botou uma boutique para a vida melhorar
Pedro Caroço, filho de Zé Fagamela
Passa o dia na esquina fazendo aceno pra ela
Ele tá de olho é na boutique dela!
Ele tá de olho é na boutique dela!
Ele tá de olho é na boutique dela!
Ele tá de olho é na boutique dela!
Severina Xique-Xique — Genival Lacerda
O forró pé de serra, no entanto, aos poucos, ficou conhecido para diferenciar as bandas mais tradicionais, por assim dizer, que utilizam os instrumentos da tradição em contraposição ao ritmo de hoje em dia com instrumentos e mixagens elétricas.
Esse termo forró pé de serra está ligado também aos nomes da origem do ritmo. Assim, quando ouvimos falar: “eu gosto mesmo é de um pé de serra”, certamente a pessoa está fazendo referência a um forró sem muitos incrementos elétricos e mixagens ou um clássico forró com sanfona.
O forró pé de serra ficou famoso com os nomes de Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Dominguinhos, Genival Lacerda e Adlemario Coelho.
Esse é o forró roots, raiz e é tocado na festa tradicional de São João que ocorre durante o mês de junho em todo o Brasil.
O mês de junho é o mês das festas juninas, onde em todo local do Brasil podemos comer as comidas típicas do interior e da roça. No caso do nordeste, sempre toca o bom e velho “forrozim”.
As cidades onde mais se festejam o forró na época de São João é Caruaru, Petrolina em Pernambuco e Campina Grande, na Paraíba. Na Paraíba, que é a mais tradicional e conhecida como a capital do forró, a festa organiza disputas para ver qual será o melhor forró do Brasil daquele ano, independente de ser clássico ou contemporâneo.
Forró das antigas
Mas atenção, certamente você vai se deparar com algumas pessoas falando que “bom mesmo era o forró das antigas”.
Forró das antigas faz referência não à tradição de 1940 ou sua origem em 1937, mas aos sucessos da década de 90. Ali você encontra inúmeras bandas que muita gente passou a amar e que estão nos ouvidos dos brasileiros até os dias de hoje. Isso porque muitos artistas deste gênero fazem cada vez mais sucesso atualmente.
O forró na década de 90 e anos 2000
Toda mágoa que passei
É motivo pra comemorar
Pois se não sofresse assim
Não tinha razões pra cantar
Ha ha ha ha ha
Mas eu tô rindo à toa
Não que a vida esteja assim tão boa
Mas um sorriso ajuda a melhorar
Aha, aha
Rindo à Toa — Falamansa
Nos anos 90 e anos 2000, o forró saiu do nordeste, podemos dizer assim, e foi direto para região sul e sudeste do país, o que levou a uma fusão do ritmo com outros já bem conhecidos e trabalhados pela própria música brasileira, como o Rock, o samba, o Funk e o Reggae. Daí surgiu aquilo que ficou conhecido no Brasil todo como Forró Universitário.
Com esse novo tipo de forró, as danças ficaram mais elaboradas, com passos e giros complexos. A música passou a utilizar violão, contrabaixo e percussão. Várias bandas ganharam voz Brasil afora como Fala Mansa, Rastapé, entre outras.
Oh! Meu vaqueiro, meu peão
Conquistou meu coração
Na pista da paixão
E valeu o boi
Eu estou sempre onde ele está
Forró, vaquejada qualquer lugar
Eu vou seguindo o meu peão
Seus braços fortes, sua cor
Vaqueiro eu quero o teu calor
Em teus braços quero estar…
Meu Vaqueiro, Meu peão — Mastruz com Leite
Nessa mesma época, no entanto, o forró eletrônico também chamou bastante atenção. Utilizando guitarra, baixo e o teclado substituindo a sanfona, foi um ritmo que conquistou muitos corações.
Artistas como Frank Aguiar, Mastruz com leite, Limão com Mel, Magníficos, Calcinha Preta e Banda Calypso fazem sucessos monumentais até hoje em dia.
Agora assista aí de camarote
Eu bebendo gela, tomando Ciroc
Curtindo na balada, só dando virote
E você de bobeira sem ninguém na geladeira
Wesley Safadão — Camarote
A partir dos anos 2010, principalmente na cidade de Fortaleza no Ceará que é um dos pólos industriais do forró no Brasil e vem crescendo cada dia mais, o forró de favela, como é conhecido, foca na voz da periferia e suas relações amorosas, sociais etc. com um tom mais melódico. As bandas mais conhecidas são: Banda A Loba e a dupla Joyce Tayné e Igor Guerra.
Forró VS sertanejo
Apesar de o forró tradicional fazer muita referência ao sertão nordestino. O termo sertanejo não tem nenhuma ligação com o ritmo sertanejo. O termo sertanejo está ligado às pessoas do sertão brasileiro, na maior parte do nordeste do Brasil, onde se desenvolveu uma cultura do sertão, passando pelos desafios da fome e da seca em plena caatinga.
Já o sertanejo como ritmo musical está mais ligado ao caipira do centro-oeste, sul e sudeste do Brasil, em especial São Paulo, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Tocantins e também o sul do Rio de Janeiro
Essas cidades formam um cinturão sócio-cultural bem específico e bem diferente do sertão nordestino. Ali, em vez da seca, encontramos o Vale do Paraíba Paulista que tem abundância de água, terra produtiva e clima ameno.
Assim, o sertanejo vira ritmo através da viola, onde os caipiras geralmente fazem duplas e compõem outro estilo musical que também é tipicamente brasileiro.
A música sertaneja é também bastante antiga, mas possui outras origens, ritmos e difusões diferentes da do forró.
Forró VS Baião
Ai, ai ai, ai baião que bom tu sois
Se o baião é bom sozinho
Que dirá baião de dois
Ai, ai ai, ai baião que bom tu sois
Se o baião é bom sozinho
Que dirá baião de dois
Ai ai, baião de dois, ai ai, baião de dois
Luiz Gonzaga — Baião de dois
É inevitável não associar Forró e Luiz Gonzaga. Muita gente ao pensar em forró, pensa em Luiz Gonzaga e já vem na cabeça uma confusão, porque somos levados a imaginar que forró e baião é a mesma coisa.
Luiz Gonzaga de fato é o rei do baião e o baião é uma dança e um estilo musical bem popular no nordeste do Brasil.
O baião, no entanto, utiliza a viola, o triângulo, a flauta, o acordeão (apelidado de sanfona) e a rabeca. A temática do baião é também a do Sertão e o sofrimento do sertanejo nordestino.
Um exemplo famoso desse estilo é Asa Branca que fala da seca nordestina, por exemplo.
Foi em meados da década de 40 que o baião também se tornou muito popular por Luiz Gonzaga, Humberto Teixeira , Sivuca e Carmélia Alves.
Êi boi, êi boi
Ê boi de mangangá
Quem não tem chuculatêra
Não toma café nem chá
Não toma café nem chá
Não toma café nem chá
Ê boi, êi boi
Ê boi do Ceará
Muié segura o menino
Que eu agora vou dançá
Que eu agora vou dançá
Que eu agora vou dançá
Boi Bumbá — Gonzaguinha e Luiz Gonzaga
O próprio movimento tropicália fez várias regravações desse ritmo na década de 70. Ou mesmo o genial Raul Seixas que, segundo ele próprio nordestino, fez a mistura do Rock com o Baião, do Elvis Presley e do Jerry Lee Lewis com Genival Lacerda e Luiz Gonzaga.
Você vai conseguir diferenciar um pouco os dois ritmos se ouvir as seguintes canções:
Asa Branca de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira; Mulher Rendeira de Zé do Norte; Boi Bumbá de Gonzaguinha e Luiz Gonzaga; Baião da Penha de David Nasser e Guio de Morais; Boiadeiro de Armando Cavalcanti e Clécius Caldas; Calango da lacraia de Luiz Gonzaga e Jeová Portela e finalmente Baião de Dois de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira.
Xaxado
Xaxado, meu bem, xaxado
Xaxado vem do sertão
É dança dos cangaceiros
Dos cabras de Lampião
Quando eu entro no xaxado
Ai meu Deus
Eu num paro não
Xaxado é dança macha
Primo do baião
Xaxado — Luiz Gonzaga
Quando estamos numa festa tradicional de forró, muitas vezes escutamos os termos Xaxado ou Xote em que os cantores anunciam qual a música que vai ser tocada.
O Xaxado é da época de Lampião e foi muito difundido pelo seu bando de cangaceiros. Trata-se de uma dança popular que faz referência ao barulho xá xá xá que os dançarinos faziam arrastando durante a dança as alpercatas no chão.
Alguns estudiosos encontram sua origem nos índios, outros em Portugal e outros no sertão. O fato é que foi uma espécie de dança de guerra dos cangaceiros em meados de1920 em Serra Talhada e foi ficou muito popular no cangaço.
Era uma dança tipicamente masculina ainda que houvesse mulheres no cangaço, por isso não virou uma dança de salão convencional. Nos ciclos, a dama era uma espécie de arma de combate. Os homens dançavam em fila indiana onde o da frente puxava os versos a serem cantados e os de trás respondiam em coro com letras de insulto e coragem, lamentos de mortes de guerra e enaltecendo seu bando para as aventuras futuras.
Os gestos da dança são firmes e fazem referência à guerra onde o rifle é a dama. Os instrumentos dos xaxado são: pífano, zabumba, triângulo e sanfona.
Forró e xote
Muitas vezes, alguma canção de forró ou mesmo em uma festa você ouve a palavra xote. O xote é uma dança de salão que tem sua origem na Europa central. É um ritmo muito executado no forró. Ele vem do alemão schottische que quer dizer escocesa ou polca escocesa.
Essa dança chegou ao Brasil em meados do século XIX e se misturou com o gosto popular brasileiro. Ele é encontrado tanto no sul (xote gaúcho) quanto no nordeste no caso do forró. O passo original é o famoso dois pra lá e dois pra cá.
Agora que você sabe um pouco mais sobre essa maravilha da cultura brasileira, acreditamos que pode apreciar muito melhor as festas e as músicas de forró. É claro, isso depende muito do estilo e da ocasião.
Caso você queira agora adentrar na experiência de ouvir esse ritmo contagiante ou se interesse em um forró para dançar, para ouvir ou para iniciantes, separamos os principais forrós que as pessoas estão escutando atualmente, além, é claro, de você poder conferir aqueles que colocamos ao longo do artigo.
Primeiramente recomendamos esse site se você tiver interesse em como dançar forró:
https://www.fazfacil.com.br/lazer/como-dancar-forro/
As letras das músicas mais escutadas são:
Bonde do Forró — “quando você diz que vai embora” — Fica amor
Forró Anjo Azul — Homem mudado: “quem ama não deixa pra depois”
Thullio Milionário — Dançar Forró Beijando
Trio Nordestino — É forró que vamos ter
Álbum completo: É forró que tu quer? Pois tome
Forró Boys – Quem ama perdoa
Forró Banho de Gato – Quem me Dera
Wesley Safadão — Quem Pegou, Pegou
Forró Onde está você – Dominguinhos e Elba Ramalho
Por que — Forró do Felipão
Por quê? — Aviões do Forró
Banda Forró Perfeito