Em resumo |
Quando Rubem Fonseca nasceu? |
11 de maio de 1925 em Juiz de Fora — MG |
Quando Rubem Fonseca morreu? |
15 de abril de 2020 no Rio de Janeiro — RJ |
Quais são suas principais obras? |
O Caso Morel, romance, 1973; Feliz ano novo, contos, 1975; O cobrador, contos 1979, Agosto, romance, 1990; Amálgama, 2013. |
Vida
“A leitura, a palavra é extremamente polissêmica. Cada leitor lê de uma maneira diferente. Então cada um de nós recria o que está lendo, esta é a vantagem da leitura” Uma das poucas manifestações públicas do escritor.
José Rubem Fonseca nasceu na cidade de Juiz de Fora, uma cidade no interior de Minas Gerais em 11 de maio de 1925. Reservado, Rubem quase não deu entrevistas em sua vida. O escritor faleceu no Rio de Janeiro em 15 de abril de 2020.
O jornal havia publicado o meu retrato falado. Estava um pouco parecido comigo e com mais um milhão de pessoas. Fiquei tranquilo, quer dizer, calmo, imperturbável eu nunca ficava, a definição certa é menos tenso. Carne crua, 2018
Fonseca formou-se em direito e trabalhou durante seis anos na polícia civil, como escrivão, essa experiência legal e jurídica ficaria marcado na sua maneira de escrever. O Autor deixou como legado uma vasta e variada obra, repleta de sentidos e reflexões sobre a contemporaneidade, ele retratou o processo de urbanização brasileiro e deu forma aos conflitos que retalharam o tecido social nas grandes cidades na segunda metade do século XX.
Obra
Uma das características mais evidentes de sua obra é a exploração da violência; brutalista e cinematográfico o autor cruza realidade e ficção em seus livros. A prosa marcada pela crueza imortalizou alguns personagens do subconsciente urbano brasileiro. Um dos fatores de subversão é sua amoralidade narrativa; advogados, policiais, assassinos e prostitutas contam sua versão, normalmente em 1ª pessoa, o julgamento cabe ao leitor. Há uma transversalidade social em sua obra.
O crítico Silviano Santiago identifica na obra de Rubem em 3 fases distintas que também podem ser diferenciadas pelo estilo literário predominante em cada momento do autor, contos, romance e textos que fogem a classificação. A fase dos contos vai do livro, Os prisioneiros (1963) até Feliz Ano Novo (1975) ela também descreve um momento crucial da história brasileira; violência e erotismo são transportados dos jornais e boletins de ocorrência para as páginas de seus livros. As estórias frias e densas lembram um relatório, há uma sensação de que algo desumano paira o cotidiano.
Madame Pascal não emitiu um som sequer. Mas seu corpo todo tremeu num terrível arranco que durou menos de um segundo. Nisso ela quase escapou das mãos de Henri, que apertou com mais força, algumas unhas rasgando a pele do pescoço de madame Pascal. Suor porejou a fronte de Henri. Sem muito esforço ele carregou, ainda agarrado pela garganta, o corpo de madame Pascal para a cozinha e o depositou sobre uma mesa. Verificou satisfeito que não houvera emissão de fezes ou de urina: a roupa íntima de madame Pascal estava limpa (até certo ponto). Henri contemplou fascinado a morte no corpo nu de madame Pascal. O rosto: petéquias disseminadas por quase toda a face, constituindo um pontilhado escarlatiforme sobre a pele pálida, cianosada; os olhos congestionados; as narinas apresentando uma espuma sanguinolenta; a língua projetando-se entre os dentes. Henri, Os prisioneiros, 1963
Curta metragem inspirado nos contos Passeio Noturno I e II, do livro Feliz ano novo
A fase dos romances é iniciada com A Grande Arte (1983) e finaliza-se com O Selvagem da Ópera (1994). A temática e a prosa brutal mantém-se, mas vemos o desenvolvimento de roteiros mais alegóricos; nesse momento são escritos seus dois romances históricos: Agosto, livro que acompanha o último dias de vida de Getúlio Vargas, presidente brasileiro que suicidou-se em agosto de 1954 e O selvagem da Ópera, um roteiro que narra a vida de Carlos Gomes o compositor de O Guarani em sua rapsódia pelo mundo da ópera.
No livro a Grande Arte (1983), que virou um filme dirigido por Walter Salles em 1991, nos é apresentado a personagem mais recorrente de Rubem Fonseca, Mandrake, um advogado de moral flexível que age muito mais como um despachante, que resolve problemas de quem lhe paga, do que juridicamente. Ele reaparece também em outros contos espalhados por suas obras e chegou a virar uma série na HBO em 2005.
A ambientação noir, o clima cinematográfico e a brutalidade continuam em foco. O autor se aventura em um estilo diferente mas sua essência se mantém. Violência e amoralidade continuam sendo guiadas através de cortes rápidos, uma linguagem precisa e que descrevem as cenas muito vivamente na imaginação do leitor.
Nós não lhe fizemos nada, ele disse.
Não fizeram? Só rindo. Senti o ódio inundando os meus ouvidos, minhas mãos, minha boca, meu corpo todo, um gosto de vinagre e lágrima.
Ela está grávida, ele disse apontando a mulher, vai ser o nosso primeiro filho.
Olhei a barriga da mulher esguia e decidi ser misericordioso e disse, puf, em cima de onde achava que era o umbigo dela, desencarnei logo o feto. A mulher caiu emborcada. Encostei o revólver na têmpora dela e fiz ali um buraco de mina.
O cobrador, 1979
O livro A Confraria dos Espadas (1998) inicia a terceiro fase. Depois de 3 décadas de romances e contos o autor nos traz textos que escapam de uma classificação de gênero (conto e romance). São simplesmente textos. A contemplação lança-se sobre o senso comum e o bom mocismo politizado que existe nesse começo de milênio.
“Hoje ninguém lê livros, todo mundo tem coisas melhores e mais fáceis para fazer, ver televisão, andar de carro, cheirar cocaína, fumar maconha, tomar uísque, falar no celular, mandar mensagens no WhatsApp, foder —foder não, ninguém mais fode, quem quer ter filho faz inseminação artificial. Foder saiu de moda.” Carne Crua, 2008
Em Conto de amor, do livro Amálgama, essa reflexão fica evidente, em um relato angustiante, o autor nos apresenta uma perspectiva sombria do significado do amor. A construção de todo o livro nesse caso remete a essa mescla de textos, que em conjunto tomam um significado maior, evidenciando mais uma característica que percorre a obra do autor: a metalinguística e intertextualidade.
Rubem Fonseca é considerado um mestre do conto mas sua obra narrativa é contestada por se aproximar dos romances policiais. No entanto foi, sem sombra de dúvida um dos grandes escritores da contemporaneidade, sua complexidade e prosa cortante valem muito a pena ser conhecidos.
Abaixo seguem o prêmios e uma lista com toda sua obra.
Prêmios
- Kikito, do festival de Gramado, roteiro de “Stelinha” 1990
- Coruja de Ouro, pelo roteiro de “Relatório de um Homem Casado” 1974
- Prêmio Jabuti, 1970 (Lúcia McCartney), 1984(A Grande Arte), 1996 (O Buraco na Parede), 2003 ( Pequenas criaturas), 2002 (Secreções, Excreções e Desatinos), 2014 (Amálgama)
- Prémio da Associação Paulista dos Críticos de Arte 1979 (O cobrador), 2000 (O Doente Molière)
- Prémio Camões, 2003 Conjunto da Obra
- Prémio Casa de las Américas, 2005 (Pequenas criaturas)
- Prêmio ABL de Ficção romance teatro e conto, 2007 (Ela e as outras)
- Prémio Machado de Assis, 2015 Conjunto da obra
Romances
- O Caso Morel (1973)
- A Grande Arte (1983)
- Bufo & Spallanzani (1986)
- Vastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos (1988)
- Agosto (1990)
- O Selvagem da Ópera (1994)
- E do meio do mundo prostituto só amores guardei ao meu charuto (1997)
- O Doente Molière (2000)
- Diário de um Fescenino (2003)
- Mandrake, a Bíblia e a Bengala (2005)
- O seminarista (2009)
- José (2011)
Contos
- Os prisioneiros (1963)
- A coleira do cão (1965)
- Lúcia McCartney (1969)
- O homem de fevereiro ou março (1973)
- Feliz Ano Novo (1975)
- O cobrador (1979)
- Romance negro e outras histórias (1992)
- O buraco na parede (1995)
- Histórias de amor (1997)
- A confraria dos espadas (1998)
- Secreções, excreções e desatinos (2001)
- Pequenas criaturas (2002)
- 64 Contos de Rubem Fonseca (2004)
- Ela e outras mulheres (2006)
- Axilas e Outras Histórias Indecorosas (2011)
- Amálgama (2013)
- Histórias Curtas (2015)
- Calibre 22 (2017)
- Carne Crua (2018)